segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Antiga casa da Família Álvares Brandão de Travanca de Lagos


O tema desta casa é recorrente neste Blog mas, compreenda-se, neste espaço está tudo relacionado – história, poesia e património. Claro que foi também a casa onde a minha avó viveu quase 30 anos (numa versão reconstruída), portanto, uma casa também muito especial para mim.

Remonta, provavelmente, ao último quartel do séc. XV, construída por Álvaro Afonso Brandão quando este se casou com Catarina Vaz, que era natural de Travanca de Lagos.

Álvaro Afonso Brandão, nasceu em Midões por volta de 1450, pessoa nobre, de acordo com o processo de Habilitação ao Santo Ofício do seu bisneto, o Inquisidor João Álvares Brandão. Afonso Brandão era descendente de famílias de grande fidalguia, estando a sua ascendência referida, por Manuel Rosado Vasconcelos, até Paio Gonçalves que viveu em Midões em 1131.

Casou em Travanca de Lagos em 1485 com Catarina Vaz, daí natural. Teve um filho chamado João Álvares Brandão, Juiz em lagares da Beira, sendo referido como homem honrado, mercador, dos principais do concelho. Este casou 2 vezes, a 2ª com Catarina Álvares, natural de Midões. Do casamento resultaram 4 filhos, com larga geração em Travanca e à volta do concelho (Sameice, São Romão, etc.). Esta casa foi provavelmente residência desta família por mais de 400 anos. Entrou em declínio e viria a ficar em ruínas no início do séc. XX.

Condessa de Camarido em Travanca de Lagos

A data desta foto é de 1950. Na década de 60/70, a casa foi adquirida em hasta pública por Fernando Matias, natural de Travanca, tendo-a reconstruído de raiz (e que depois alugou `a minha avó - Maria Cerca). O facto da casa ter chegado a este ponto, pode estar relacionado com o complicado processo de partilhas da Condessa de Camarido. Segundo consta em documentos encontrados, pelos proprietários duma outra casa pegada a esta, também bastante antiga, que mantêm nos registo as antigas confrontações, confrontava com Condessa de Camarido. Ou seja, esta casa fazia parte da vasta herança da condessa de Camarido. À sua morte, a casa provavelmente já estaria numa fase de declínio, acabando por ficar em ruínas, e só quando se tornou um perigo público aos transeuntes terá sido vendida.

Dona Maria Isabel Freire de Andrade e Castro (1836-1905), herdeira das Casas de Bobadela e Camarido, 2ª Condessa de Camarido, que casou aos 17 anos com o seu tio paterno, Bernardim Freire de Andrade e Castro (1810-1867), Alferes de Cavalaria, Moço-Fidalgo da Casa Real, Comendador de Terena, na Ordem de Aviz, filho dos l°s Condes de Camarido. Camarido é uma zona de floresta na foz do rio Minho. O título foi criado por D. João VI e concedido por Decreto de 1822 a Nuno Freire de Andrade e Castro, para relembrar o feito de seu irmão, Bernardim, que nesse local resistiu heroicamente ao exercito Napoleónico.
Não tendo tido filhos de seu casamento, a Condessa de Camarido - a tia Patrocínio, segundo especialistas queirosianos, do romance “A Relíquia” -. faleceu viúva e sem geração, deixando os seus bens a instituições religiosas. Pela sua relação com um padre, que tinha um enorme ascendente sobre ela, acabou por passar quase toda a fortuna para a congregação a que ele pertencia, a do Espírito Santo. A família impugnou e houve um processo muito complicado.

Hoje a casa tem novos proprietários, herdeiros de Fernando Matias. O granito mantém-se mas sem o esplendor de outros tempos, que aliás, eu nunca conheci.
(bibliografia- "Raízes da Beira)

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