sábado, 21 de dezembro de 2013

Artigo publicado na Folha do Centro em 19 dezembro de 2013

Francisco Antunes
Francisco Antunes
Só se ama aquilo que se conhece!
O nosso país é uma enorme manta de retalhos, modesta e humilde, sempre viva e surpreendente. Se dela levantarmos o “farrapito” que nos coube para viver – a Beira Serra -, este não destoa do conjunto, e é no Outono que atinge o apogeu da sua formosura: a luz, a transparência do ar, o colorido das florestas, o cristalino das águas que correm…e com um pouco mais de esforço descobriram as suas gentes e a admirável História da região.

Desçam lentamente qualquer das vias que a Serra ou da estrada Real vão ao encontro do Alva! De Vila Cova e Sandomil, passem por S. Gião, Penalva, Caldas, Sto. António, S. Sebastião, e Avô e as suas admiráveis Varandas; uma pausa em Vila Cova do Alva e sosseguem em Coja…deliciem-se com o constante movimento dos cenários deste fantástico palco.
A cascata do Alva é um permanente louvor à Natureza e um hino ao engenho do Homem. Tudo…harmonia do Belo!

Se da folhinha da História levantarmos mais um “farrapinho” do último quartel do Séc. XV, aparece-nos uma região de múltiplas carências, sem vias de comunicação, forte isolamento, insegurança nos caminhos, ausência quase total de pontes. Densa floresta cobria o território. Assaltos frequentes de ladrões, lobos e ursos obrigavam os raros viajantes a deslocarem-se sempre em grupo, viajantes constituídos por monges, frades, cobradores de impostos, alguns freires das ordens militares, todos armados pois transportavam rendas e esmolas, para conventos e mosteiros.

Contudo, na última década do seculo deram-se na Península Ibérica notáveis acontecimentos que muito abalaram as populações na sua forma de viver. O descobrimento do caminho marítimo para India em 1498, a descoberta do brasil em 1500, a expulsão dos Judeus de Espanha em 1492 e a descoberta da América em 1493. Nesta época eramos cerca de um milhão de habitantes com 98% de analfabetos…de Espanha recebemos cerca de duzentos mil “expulsos” com 40% de analfabetos…ficaram a construir quase 20% da população. Nota curiosa: em 1975 vieram de Africa 300.000 portugueses, tínhamos dez milhões…acrescentaram a população em 3%!!!

Embora D.Manuel numa lamentável medida tivesse expulsado alguns milhares de recém-chegados no interior do reino, tal não se verificou e foi esta “gente de nação” que, felizmente, deu notável impulso ao desenvolvimento da Beira Serra e a todo o interior do País.

A construção naval teve desenvolvimento explosivo com as carreiras da India e do Brasil, centenas de naus, caravelas e mais tarde, galões, foram construídas; calafates, carpinteiros, cordeiros, tecelões, ferreiros e outras profissões atulhavam os estaleiros de Lisboa. Do interior houve um fluxo migratório para o litoral que em parte foi compensado com as gentes chagadas de Espanha e a nossa Beira-Serra não faltam criadores de gado, curtidores, samarreiros, sapateiros, alfaiates, comerciantes de panos, de tripa, de especiarias, azeite, vinho e cera; almocreves e carreteiros que lhes davam o controlo dos transportes.

No território hoje está ocupado pelo nosso concelho existem interessantes marcas desse tempo em toda a ribeira d’Alva, Vila pouca, Lourosa, Bobadela, Travanca e Ervedal.
Travanca, na minha modesta opinião, detêm o mais bem conservado núcleo histórico dessa época que, embora modesto, se encontra bastante desprezado e até, lamentavelmente, mutilado.

É povoação muito antiga; já é referida em documentos de 969 e a presença de sepulturas e lagaretas bem elaboradas não deixam dúvidas que ali, antes daquela data, já se produzia vinho e azeite. A sua igreja dedicada a S. Pedro, de três naves, está datada no Séc. XI, foi modificada através dos séculos e enriquecida com belos azulejos hispano-árabes e notáveis altares barroso que denota fé, riqueza e nível social dos seus habitantes. Curiosamente as três igrejas do conselho com três naves são todas dedicadas a S. Pedro: Lourosa, Seixo e Travanca. Três templos dos mais antigos da região.

A Fonte Arcada onde desde o começo do tempo…se praticam magias, curas milagrosas, se “ergue a espinhela ou se corta o cobrão”…mas o mais interessante é que “Arcada” tem origem numa palavra grega que significa- mistério, remédio!!! Quem pôs o nome aquela misteriosa fonte?
Travanca é Histórica, Enigmática… Misteriosa. Sim, é modesta mas é merecedora de um estudo adequado e de uma proteção responsável.
É natal!
Paz, Esperança, Saúde para todos vós

Artigo elaborado por Dr. Francisco Antunes 


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